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domingo, 27 de fevereiro de 2011

das aleatoriedades da vida (VI)



Tenho reclamado muito. Mais que o normal. É uma insatisfação constante com o comportamento alheio, com a falta de visão de algumas pessoas, com o calor irritante, com a falta de cuidado de outrem. É evidente que eu não sou a pessoa mais lydna da face da terra e tenho plena consciência disso, mas [e talvez exatamente por essa razão] me espanto quando vejo o pouco caso que se faz do sentimento e da necessidade que não estão em nós mesmos. Falta de delicadeza, falta de bom senso, falta de educação, falta de sensibilidade, falta de respeito.
Simplificar a minha vida sem exigir que as pessoas em volta tenham atitude igual. É como tenho tentado levar meus dias, mas parece que a cada tentativa, alguém percebe e me boicota. Ou me boicoto eu. Investir apenas nas coisas e pessoas que me dão retorno - e não sejamos hipócritas, sempre se quer algum tipo de retorno: material ou emocional - aparenta ser a coisa mais difícil que eu já me propus a fazer. E aí acabo não investindo em coisa alguma, uma vez que definir parâmetros de retorno não é simples, além do mais, uma hora ou outra a decepção vem dando voadora nos peitos da gente. Nunca fui a pessoa mais otimista do mundo. E essa característica provavelmente continuará comigo, por mais que se disfarce.

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Minha memória me apavora às vezes.
Não é assim, que eu me lembre do número do telefone de alguém 10 anos depois, como minha mãe, ou o Francisvaldo, mas é uma memória bastante razoável. Duas semanas atrás eu estava no corredor da faculdade e vi um rosto conhecido. A mulher em questão chega à porta da sala e diz um educado e alegre "Boa noite! Com licença, professor." No momento em que ouvi a voz dela tive uma certeza absurda de que era a mãe de um colega meu da escola. A última vez que vi qualquer um, mãe e filho, data de junho de 1996.
Na quinta feira ela estava sentada na porta da cozinha e um colega fez um comentário, quando olhei para o rosto dela, me esqueci das amarras que geralmente prendem minha língua nessas situações e perguntei, com muito desprendimento, se ela era a mãe do Bruno. Era. 
Beijo pra minha cabeça absurda.

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_Por que as pessoas que sentem frio não saem de suas casas preparados, nem quando o clima está fresco?
Essa é uma dúvida que sempre me acossou a mente e outro dia foi reforçada por uns comentários que eu ouvi.
Funciona assim: Tem-se sessenta pessoas numa sala de aula dotada de uma porta, duas janelas e um ventilador e meio. Algumas pessoas consideram Anápolis uma cidade fria e eu já presenciei discursos laureados com "Nunca pensei que eu fosse morrer congelada no interior de Goiás!" Eu discordo, sabe? Pra mim isso aqui é quente, mas sempre que penso em Goiânia ou Balsas [oláaa, Maranhão!], morro de calor, sufoco em pensamento e fico satisfeita com a temperatura daqui. Dito isto fica claro que as menininhas morrem congeladas à noite e que periguete, como não sente frio, anda semi-nua, sem nenhum problema. Mesmo quando até os bombadões da academia estão usando seus moletons GAP comprados ali no camelódromo.
Eu fui criada numa onda de preparação. Nunca vi minha mãe sair sem, pelo menos um casaquinho, a não ser no meio de novembro, porque aí não seria preparação, seria esperar um milagre. Aprendi com ela e, como gosto de frio, mas não de passar frio, tem sempre um cachecol, uma jaqueta, qualquer coisa que me impeça de congelar nas nevascas noites frescas anapolinas/ brasilienses/paulistas/insira aqui qualquer adjetivo pátrio flexionado no feminino plural. Sempre acabo emprestando meu agasalho para alguma amiga ou namorada de amigo que tá batendo queixo...
A minha dúvida é bem simples. Por que raios as pessoas não se preparam? Nêga carrega uma em bolsa que meio mundo estaria confortavelmente instalado, caso fosse necessário, leva dentro dela 5 tipos de batom, pó compacto e estojo de sombras, e não pode colocar uma blusinha lá dentro? 
Mas pode, ca-laro atrapalhar o conforto térmico de todo mundo ao redor e resmungar a noite toda.

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Hoje, no restaurante, enquanto esperávamos a comida chegar, a Luísa me contou que está estudando muitas coisas desde que passou para o primeiro ano: Português, Matemática e Química [tenham em mente que ela passou para o 1o ano do Ensino Fundamental, o nosso pré].  
_Química, Lu?
_É! 
_E que você já aprendeu em Química?
Ela começa a fazer sinais indecifráveis com as mãos.
_Hein? O que que você aprendeu em Química?
Continua a fazer gestos, mas agora faz uma casinha, imita alguém bebendo água e penteando o cabelo.
_Aaan?
_Uai! O que que você acha que é isso que eu tô fazendo? QUÍMICA, ué!

Dois minutos depois, ela me conta que está aprendendo, em Ciências, os 5 sentidos. Didática que sou, pedi que ela me falasse quais são.
_Tem o olfato, que é quando a gente sente um cheiro. E tem os olhos.
_Qual o sentido dos olhos?
_Hmmm *pensa, pensa, pensa e exclama, com muita certeza* OLHARES!

Já pode morder? 



Finalizamos mais uma edição das aleatoriedades, também conhecidas como aqueles posts em que quero falar pouco sobre vários assuntos ou pego rascunhos e junto numa coisa só. 
Espero não ter sido a voadeira nos peitos de ninguém hoje.




5 comentários:

Tati disse...

OLHARES! Poesia pura... :)

Letícia disse...

Hahahaha, morri com os olhares. :)

hvezda disse...

sem voadoras :)
mas delicadeza no mundo, por favor.

Francis Leech disse...

Sempre fiquei impressionadíssimo com a sua memória pra detalhes. Pra mim os detalhes praticamente não existem e eu estou sempre limpando o meu "cache" involuntariamente.

Morro de frio com muita freqüência e acho anápolis um forno. Não sei onde inventaram que esse lugar tem um clima bom, clima bom é São Paulo, que fica frio TRUE!

=^***

Anafla disse...

Já pode morder!
Que linda definir o sentido dos olhos como olhares. haha

Crianças são fofas demais.
:**