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quarta-feira, 20 de abril de 2011

dos muros



Algumas [todas as?]pessoas constroem muros ao redor de si.
Não pretendo debater se isso é bom, saudável, instrutivo, uma merda, ou qualquer coisa do gênero. Quero falar do meu próprio muro. 

Meus bloqueios são altos e visíveis a olho nu para quem está fora da Terra. É algo assim como a Grande Muralha da minha China interior [OI, que tipo de analogia é essa?]. Tal proteção tem máscaras distintas e pode variar do riso espalhafatoso ao mau humor cortante e agressivo, passando pela aparência de lagoa calma em dia sem vento. 
De forma geral todas as pessoas respeitam a cortina de ferro, seja porque não querem invadir um espaço claramente delimitado, seja por não perceberem que tem alguma coisa além do que aparece em primeiro plano, seja por medo, como já me confidenciaram. 
Existe, no entanto, uma pessoa, uma única pessoa, que faz da minha orgulhosa muralha uma cerquinha podre. Ela chega, chuta a cerquinha e passa para o outro lado com a delicadeza de uma bailarina, como se tivesse acabado de atravessar, sei lá, uma pontezinha sobre um riacho calmo. 
Faz as perguntas mais desconcertantes em momentos inesperados - sem ser inconveniente, o que é mais interessante. Ela me alcança de uma maneira quase brutal e, muito provavelmente, sem saber disso. Suponho que seja seu natural, mas não tenho como conhecer comportamentos que não vejo, então digo que é seu comportamento comigo.
O mais espantoso disso é que, ao contrário do que meu instinto de defesa me obriga sempre a fazer, não fujo dela. Mesmo me desmontando, jogando minhas máscaras tão bem talhadas no chão, mesmo me deixando emocionalmente nua, simplesmente com sua presença, não fujo. Aliás, houve duas fugas, em quase nove anos. Nas duas ela simplesmente ignorou e veio até mim, com os braços estendidos, com um presente, uma lata de goiabada cascão, ou um colchonete velho que precisava ser devolvido.
É estranho como algumas pessoas entram na vida da gente sem um mínimo de cerimônia e ocupam um espaço tão grande que só a possibilidade de esse nicho perder o ocupante - ou mesmo de trocá-lo - é algo quase desesperador. 
Assim como é estranho o poder imenso que o abraço de uma pessoa assim tem. 

Pelos atos pequenos.




Ela provavelmente não vai ler isso aqui. 
Ela nem deve saber que eu tenho um blog. 
Mas o importante, o importante, mesmo, ela sabe.




8 comentários:

Unknown disse...

Esse tipo de pessoa chamamos de Verdadeiros Amigos.Assim,com iniciais maiúsculas mesmo.Porque elas merecem.

Anônimo disse...

É por essas e outras que ainda tenho fé na humanidade ;)

Anafla disse...

A gente sempre tem uma pessoa na vida que atravessa todas as barreiras que colocamos sem ao menos sabermos como.

E são essas pessoas que a gente leva pra vida, né? E é tão importante ter alguém assim pra gente contar...

:)

Beijos!

Nathie disse...

Oun! Sincero e bonito!

;*

Alana Ávila disse...

Ai que saudade de gente assim :(
Pense numa vida cruel que afasta as pessoas. Culpar a vida é sempre mais fácil.

Saudade de vir aqui e tagarelar.
Meu computador e minha internet tão de plano contra mim.
¬¬

beijo grande e ótima páscoa pra tih pra tua mãe e pro nenem lindo que se veste de batman no aniversário!
:*

Ericka Rocha disse...

Eu quero muito que ela leia esse post pra saber o quanto é especial... É sempre assim, a gente cria barreiras enormes que só são quebradas por quem MERECE.

Um bjoooo xuxu, Feliz Páscoa!

Cris disse...

Que bom ter alguém assim na vida!
E que bom que você reconhece essa presença!
beijos

Guilherme Conde disse...

"Nas grandes cidades, no pequeno dia-a-dia, o medo nos leva a tudo, sobretudo à fantasia. Então erguemos muros que nos dão a garantia de que morreremos cheios de uma vida tão vazia"

Simplesmente perfeito suas colocações que criam o texto. Todos temos essas cortinas de ferro, alguns mais, outros menos. É humanamente incrível quando nos protegemos tanto que descobrimos que temos que estar perfeitamente sozinhos para estarmos com alguém.

Descobrimos, então, que nossas cortinas podem ser facilmente derrubadas por algumas pessoas que estão ao nosso redor. Sentiríamos frágil, se esta invasão de privacidade não nos fizesse tão bem. No fim, gostaríamos de ter estas simples e pequenas pessoas na parte de dentro de nossa cortina, mostrando-nos que não estamos a sós conosco mesmos.


Gostei de seus textos
;*