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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

das mudanças


Há 19 anos eu me mudei desta casa pela primeira vez. Mudar de casa não é novidade pra mim, depois de 10 vezes [das quais me lembro, né? Três não estão na memória] já estou bem acostumada ao procedimento todo, até mesmo à parte do "putz! Tinha me esquecido disso!"
Quando nos mudamos daqui eu tinha 7 anos de idade, minha mãe era um ano mais nova do que eu sou hoje e nós não fazíamos ideia de tudo que aconteceria, não imaginávamos o tamanho da mudança por que passaríamos em pouquíssimo tempo. 
Essa casa sempre esteve presente na minha vida, sendo "minha" ou "do  vovô" e sinto uma melancoliazinha por passá-la, ainda que temporariamente, para a mão de desconhecidos. 
Essas pessoas não comeram ameixas [que pouco tempo atrás eu descobri serem nêsperas] deitadas na rede, não se queimaram em taturanas tentando pegar goiaba, não nomearam uma árvore pra cada primo, não mastigaram folhas frescas de canela, não viram crescer o fabuloso pé-de-acerola-que-de-tão-grande-ninguém-acredita-que-é-acerola, não se surpreenderam com o pé de pitanga que já apareceu grande no canteiro. Esses desconhecidos nunca beijaram escondido no corredor lateral da casa, nunca passaram mais da metade dos natais da vida aqui, nunca brincaram de casinha embaixo do pé de mexerica, nunca fizeram chuva de romã na porta de casa e levaram bronca por isso, nunca aprenderam a andar de bicicleta entre a garagem e o portão, nunca riram até passar mal, nem se sentaram pra chorar na calçada. Nunca viram minhas crianças aprendendo a andar aqui, também não as viram brincando no quintal exatamente como eu e minha irmã fazíamos quando pequenas. Eles não fazem ideia de como era a casa antes e eu só faço ideia de como ela ficará depois porque haverá um contrato - com o qual pretendo impedir que retirem a pitangueira e o pé de acerola. 
Espero que eles tenham carinho pelo meu quintal, mas que coloquem pelo menos uma camada nova de cimento naquela calçada, porque aquilo está uma vergonha! Espero também que eles tratem bem a Goreti e toda a sua descendência, como fizemos nos últimos 12 anos e que não se importem com o revestimento meio torto da cozinha. Acho que essas pessoas não deveriam mexer nos porquinhos do muro, eles têm muita personalidade, sabe? [Mentira, a fachada toda precisa de reforma djá!]
Na próxima noite eu devo dormir na casa nova. 
Lá é bacana, viu? Eu gosto de ver a cidade pela janela - e meu quarto tem uma vista linda -, gosto de não depender de nada além dos meus pés e da minha própria boa vontade pra resolver as coisas, gosto de ter sacada, gosto de não me preocupar se alguém vai ficar sozinho em casa, mas, por favor, entenda, casa nova: eu ainda não passei 26 anos da minha vida com você.