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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

das aleatoriedades da vida (IV)


Como algumas pessoas já sabem, virei tia. Para os que ainda não foram informados, explico: agora dou aulas. A princípio deveriam ser aulas para crianças, mas ontem me peguei dando aula para um cara provavelmente mais velho que eu. Foi absolutamente estranho e saí de lá com o peso da frustração caindo nos meus ombros; não pela idade do cara, que já dei aulas pra quem poderia ser meu pai, mas pelo fato de ser um estrangeiro, com pouquíssimo conhecimento de português a quem eu deveria ensinar a partir da primeira página da gramática até a última do livro de literatura brasileira. Segundo ele a aula foi boa, mas creio piamente na gentileza do meu aluno. Foi uma merda sem tamanho.
Cheguei a pedir pro chefe me liberar dessa. Ele disse que era normal, que era só medinha, que eu sou uma boa professora e não quero desapontar ninguém, mas não falou "Pede pra sair", até porque isso eu já havia pedido, mesmo. Rolou praticamente uma chantagem emocional. Fiquei. Vamos ver no que isso dá.
E hoje, contando dessa aventura do barulho com um aluninho da pesada pra uma amiga, cheguei a uma conclusão: quando eu morrer, deus vai olhar pra mim com toda aquela benevolência e dizer: lembra daquele trampo, daquele aluno que não aprendia, que te roubou noites de sono e lágrimas de frustração? *aí ele abre as portas da esperança e continua falando* Pois é! Valiam uma vaga aqui, ó: na janelinha, poltrona 19, como você sempre pede e nunca consegue. Aaaêeee!

É.
Congeminações sobre o pós morte. Parei.


Como essas aulas são nas casas dos respectivos alunos, lá vai tia Mayra pegar ônibus(es?) diariamente. Um dos que pego vai para o Cruzeiro - eu desço antes, mas é esse o destino. É sempre no fim da tarde e tá cheio de trabalhadores cansados. É um ônibus cheio e silencioso. Essa semana, 47 segundos antes de eu descer, o motorista fez um retorno absolutamente do mal, uma curva acentuadíssima e eu, que segurava com uma mão só o cano [ui], fiz um movimento digno de bailarina. Girei quase 360 graus em torno do meu próprio eixo, com uma perna a meia altura, suficiente para chutar a bunda de uma passageira desavisada. Foi bonito e uma vez que eu desatei no riso, liberei a geral pra rir também. Não, não fiquei desconcertada. Não por isso. Além desse tem um outro, o São Sebastião, que me leva para o lar dos aluninhos lacustres de Brasília. Esse é mais iteressante, a despeito da ausência de duplos twists carpados. O horário em que costumo pegá-lo coincide com as empregadas, diaristas, faxineiras, secretárias, como você quiser chamá-las, saindo do trabalho. Entramos todas juntas no ônibus e tem início (mentira. tem início na parada de ônibus, mesmo) a falação. É o ônibus mais tagarela do quadradinho. Elas conversam alto, riem, fofocam das patroas, vale um estudo sociológico. Algumas dormem. Outro dia eu precisei acordar uma pra poder descer e, confesso, me senti mal em atrapalhar o que talvez fosse o horário de descanso dela.
A propósito tenho um pedido: Se você, leitorzinho amado, é um cobrador de ônibus, por favor, não dê informação errada. Se não sabe, diz que não sabe. Sua virilidade não vai diminuir e o passageiro vai se virar pra descobrir de outra forma o que ele precisa. Sem contar a economia na terceira e na quarta passagens de ônibus que o pobre pagaria caso você apenas enrolasse o passageiro. Se você não é, mas conhece um cobrador, repasse minha súplica, por favor.
E voltando às funcionárias domésticas (já reparou que qualquer nome que se use aqui soa meio preconceituoso?), me ocorreu uma dúvida que sempre me consome. Por que é que elas podem fazer o serviço errado, ou mal feito e ficar bravinhas se a gente corrige - ainda que se corrija sem ofensas ou grosserias - e qualquer outro profissional toma n lombo se fizer a mesma? É um dos grandes mistérios do mundo.

Assim como é um mistério a razão pela qual escrevi tanta abóbora aqui.
Vou tomar jeito, preparar a aula pro meu aluno que não fala português e pensar em exercícios que envolvam a Guiné Equatorial.
É.
Acho que vai ser melhor.

7 comentários:

Cachorro de 3 pernas disse...

Uhuhuhu Mayrinetchi (a Diarista) hauhauahauah

Tati disse...

Eu tava tendo um ataque de choro antes de ler seu blog e tive um ataque de riso lendo sobre o seu passe de bailarina dentro do ônibus.

Obrigada.

Cari_na disse...

FAbuloso rsrs...

Me peguei gargalhando aqui...

Nossa como foi bom ler isso aiai

boa noite =*

Joyce Pfrimer disse...

kkkkkkk! já vi dançar balé em muitos lugares, mas no ônibus é ótimo!!! Principalmente qd é acidental!

=*

nina percheron disse...

ai que lindo! tenho um relato!

eu ando tanto de onibus que estou a ponto de te dizer que sei beeeeeem o que sao esses passes de bailarina (ainda mais quando se esta segurando no cano com uma mao e segurando um livro com a outra! hauhau) e tambem como é a labuta de professorinha!

eu to fazendo estagio obrigatorio, da facul né. ensino ciencias pra duas turminhas do "demonho" de setima série! to falando do corpo humano. eles sao lindos, e as vezes é muito massa as aulas, mas outras vezes, eles sao uns capeeeeeeeetas. uahauhaua.
mas é legal professorar! eu tenho gostado mto.
e sei bem como é quando bate a frustraçao de pensar que a aula foi uma merda sem tamanho. mas calma, congeminadora, isso é normal, e nao vai ser a primeira vez que vai acontecer! ouça a voz da experiencia aqui! ;PPP
auahuahauha

beijo!

Camila disse...

Conhece o ditato?

"ser professor é padecer no paraíso!"

-acho que era mais ou menos isso. ^^


relaxa, vai dar tudo certo!

beijos daqui...

Anônimo disse...

se vc fizer um estudo sociológico sobre as domésticas, avisa pq quero muito ler.

O fato de 'confiarmos às auxiliares domésticas a nossa casa' faz com que relevemos alguns detalhes, pois uma poderosa irritação pode causar danos ao doce lar, tornando-o amargo, amarrotado, imcompleto..

/Solin