Deixa eu contar uma historinha pra vocês.
Vai, Cláudia, senta lá.
Eu estava em Buenos Aires, aquela terra linda, cheia de bebida barata, doce de leite e cabajo de piedra, com um casal de amigos. Deveríamos ser pelo menos 4 pessoas, mas nêgo é foda, deu pra trás, daí ficamos o casal e eu. Não era, assiiiim, um problemão, porque eles meio que se conheceram no chão do meu quarto, então tava tudo em casa.
Os senhores sabem o quão sortuda eu sou e que nunca havia ganhado nada em sorteio, além de um pote de puro mel de abelha europa, quando tinha 9 ou 10 anos [eu tinha 9 ou 10 anos, não o mel]. Nessa viagem o mundo deu um devorteio e eu fiquei sortuda por 15 dias. Ganhei dois sorteio na escola de espanhol em que eu e Jarleo estudávamos. Um me dava 5 drinks grátis no pub X e o outro, 5 entradas grátis para o Niceto Club, onde algum tempo depois a Black Drawing Chalks tocaria, mas isso ainda era segredo para nós, reles mortais. A moça da escola falou pra eu levar TODOH LOH MIOH AMIGOH, o que me dava um tarefa. Éramos 3 viajantes, uma arhentina amiga e isso somam 4 pessoas. Eu precisava arrumar outro amigo! Pensei na mocinha austríaca, ainda meio perdida no local, que faza aulas de espanhol comigo. Chamamo-na. A compreensão dela a respeito desse convite não vem ao caso.
Durante a tarde, as andanças de sempre, talvez algum museu, não me recordo com clareza. Mas me lembro do sanduíche que comemos no iniciozinho da noite.
Num boteco escuro e legal, perto do tal Niceto, começamos a jornada. A tequila custava 6 pesos, pouco mais de 3 reais e, oi? eu não bebo cerveja, né. A vida é bonita, a música era boa, tava dando a hora limite pra entrar e nada da nova amiga austríaca chegar. Fui procurar um orelhão, não encontrava e pedi informação a duas mocinhas aleatórias, que, não só me disseram que era peligroso andar por ali sozinha àquela hora, como me emprestaram um celular.
A amiga chegou, entramos todos juntos, unidos numa só estrangeirice e depois de algum tempo nos separamos. Digo: nos separamos todos. Eu me achei passando mal no banheiro, com uma ânsia de vômito fantárdiga. Sentei-me numa escada que me pareceu apropriada. Não era. O rapaz simpático que trabalhava no lugar me perguntou se eu estava bem e se eu me importaria de sentar num lugar que ele apontou - pra mim era uma mureta perto da escada. Nunca saberemos. Algum tempo depois [notem o uso do pronome indefinido] um outro rapaz, também funcionário da casa veio perguntar se eu me sentia bem, ao que respondi com toda clareza que a náusea permitia:
_No hablo errpañol.
Ele começou a falar comigo em inglês. Quer dizer.
Bom, o inglês é sempre fluente o depois de beber qualquer coisa e conversamos longamente [mentira] sobre o fato de meus amigos estarem em algum lugar por aí e o porteiro ter dito que eu teria que pagar outra entrada, caso quisesse sair e voltar. Oi, não paguei nem a primeira?
Gentilmente o bróder deu uma comida de rabo bronca no porteiro e disse que eu poderia voltar na hora em que eu bem entendesse tomou papudo.
Fui lá pra fora e se seguiu uma seqüência de mudanças de lugar. Dormi sentada na calçada [mas com a bolsa dentro do meu casaco, devidamente fechado, que eu não sou boba, não!], várias pessoas me perguntaram se eu precisava de algo, ganhei um abraço e um beijo - na bochecha, calma lá! - de uma moça que tinha certeza de que eu não estava bem, fiquei em pé ao lado da portaria, achando que me aguentaria e posteriormente retornei ao ponto inicial: porta da boate, sentada no canteirinho, perto do meio fio.
Um cidadão se sentou ao meu lado e puxou papo - em espanhol, claro. Eu simplesmente acenava com a cabeça e dizia coisas como "Si, como no?" e "Claro, claro", que pareceram suficientes para estabelecer um diálogo.
[outra música, pra ter trilha pro post todo]
_Onde você foi?
_A gente achou que algum argentino rico e maluco te levou pra área vip e te sequestrou!
_Por que hiciste esto, Mayra? Donde estabas?
[mas foi tudo junto e ninguém respeitou a vez do outro pra falar]
Eu, mui sinceramente emocionada, só conseguia repetir que estava feliz por eles me encontrarem, que eu não queria estragar a noite deles, então vim passar mal aqui fora. Depois fiquei sabendo que eles ficaram mais de uma hora me procurando lá dentro. Ou seja.
Pararam um táxi e, quando o Jarleo delicadamente me direcionava para dentro do carro, parei, voltei aonde estava antes, dei dois tapinhas nas costas do cara que estava falando comigo - embora a recíproca nem fosse verdadeira- e disse "Tchau, amigo!", momento em que o corazón perdeu a delicadeza e me jogou no carro de uma vez. Eu nunca o chamei de amigo, vou chamar um zé qualquer?
Bom, isso aí não foi a história. Foi o preâmbulo.
Descemos do táxi e as pessoas sóbrias foram entrando em casa.
Eu parei.
Nêgo me mandou entrar.
Eu fiquei.
_Gente, diz que tem mais alguém vendo uma privada na porta do nosso prédio.
_Mayra, cê tá bê... gente! É verdade!
_Agora tira uma foto que amanhã cês vão ficar falando que só eu vi isso e que nunca existiu uma privada ensangüentada ao lado de um chuveiro na porta do prédio!
A foto foi tirada e minha sanidade, atestada.
Lembrei disso porque observei uma coisa hoje quando chegava em casa: está no meu destino me deparar com vasos sanitários em locais inusitados? Porque havia outra privada na porta de outra casa!
Devo me preocupar? o.O
A quem interessar possa: não, não vomitei. Quando chegamos em casa, eu quis preparar uma sopa dessas de caneca, tipo Vono, antes de dormir e as meninas discutiam que providência tomar em relação a mim. Larguei a caneca, bebi um pouco de água e fui dormir. Vestindo ainda a calça jeans, mas plácida feito um bebê.
9 comentários:
Menina, por um momento eu quase pensei que o tal vaso sanitário aleatório era na porta da boate e que vc tinha se dado conta de que esteve sentada nele um tempo, HAHAHAHA.
Amei a história, e o fato de conter frases en español só ajudam pra ser ainda mais incrível. :)
Olha, vai que é tendência essa coisa do vaso na porta da casa? Sem contar que é muito mais útil, como no?
Amei o post. Não some do blog não! :)
Estava sentindo falta das suas histórias!
Um dia (acho que meio alterada tbm) fui perseguida por bicicletas sem rodas, mas vasos sanitários... =O
fez bem em tirar fotos, para que ninguém duvide depois - como foi meu caso!
;)
HAHAHAHAHA adorei a história. Assim que chegar ao Rio, fica de olho nas ruas, quem sabe vasos aparecem!
bjs
Aiiii não me lembra do José que eu choooro!!!
arghhhhh!!!!
Gente! HAHAHAHAHAHA!
Tipos, estou intrigada...
1: Por que raios a privada argentina estava ensanguentada? Seria mesmo sangue?
2: NINGUEM teve curiosidade de abrir a privada pra saber o que tinha dentro? Pergunto isso prq eu seria a primeira a querer saber o tinha la dentro. rsrs
3: Percebeu que as privadas são iguais? #medo
So digo uma coisa, to rindo mto! HAHAHAHA!
Bjoooos! ;)
Mentira que vc chegou e deitou na sua cama com roupa da rua!
=O
HAUAHUAHUAHU, gente, to super atrasada no seu blog, só agora li esse post, mas que bizarro!!! E oh, to orgulhosa de vc por não ter gorfado, porque eu já passei ultra mal com bem menos tequilas, hauhauahua!
amo gente bêbada
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